Foto Violeta Africana e Avenca Texto Ida Mara Freire
Durante a pausa da escrita, enquanto observava as violetas e as avencas hoje pela manhã, fiquei a pensar por que o silêncio é um luxo para um dançarino sul africano, que entrevistei na época que moramos lá, traduzo livremente uma parte que ele me falou:
“Eu penso assim… Eu penso que já houve um momento em minha vida que o silêncio não era importante, seja como um motivo para estar calado, para meditar, ou para ocupar um espaço sonoramente diferente. Eu nunca tive o luxo de usar o silêncio como uma ferramenta para entender melhor uma coisa ou me acalmar, até recentemente. Sim, muito recentemente, eu sei que posso estar calado, e esse silêncio me conduz para outro lugar – ou eu posso estar pensando em qualquer outra coisa. Como, por exemplo, agora nós praticamos ioga como para nos encorajar trabalhar por dentro, por dentro de você, procurar algo dentro. Mas, será que nós um dia recuperaremos o luxo de ouvir só o silêncio?
Eu penso que é um problema quando me forçam a ser silencioso…Há tempos que eu estou calado, o que tem a ver com nossas estruturas políticas na África do Sul, e com algumas situações repugnantes, as quais nós, como jovens, não concordamos. Às vezes, você se sente com vontade de dizer qualquer coisa, mas sabe que por estes dias, o que você diz pode te queimar…”
As violetas e as avencas me encantam. Em contemplá-las, podemos quem sabe, ainda que por ínfimos segundos, desfrutar do silêncio, da beleza singela, da leveza. Nos tempos atuais isso realmente pode parecer algo requintado, mas o silêncio, longe de ser apenas uma ferramenta para o entendimento ele é de grande valor: – pessoal por possibilitar o cultivo da escuta interior, e, – intergrupal, por favorecer a justeza do diálogo.
Para você o silêncio é um luxo?
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