Temperos da Escrita

Exercício Contemplativo 8
Memória: o tempero da escrita
Por Ida Mara Freire
“Um dia de inverno, ao voltar para casa, vendo minha mãe que eu tinha frio, ofereceu-me chá, coisa que era contra os meus hábitos. A princípio recusei, mas, não sei por que, terminei aceitando. Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madeleines (…) No mesmo instante em que aquele gole, envolto com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa. Esse prazer logo me tornara indiferente as vicissitudes da vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, tal como o faz o amor, enchendo-me de uma preciosa essência: ou antes, essa essência não estava em mim; era eu mesmo.”
Aqui estou descobrindo as memórias sensoriais de Marcel Proust em suas descrições dos bolinhos, chamados de madeleines, na sua obra “Em busca do tempo perdido.” E pergunto quem não se lembra do aroma de canela salpicada no bolinho de chuva? A atmosfera da casa fechada, transmitia proteção e acolhimento, o chiado do mergulho da massa na panela com óleo quente, a curiosidade infantil diante daquela mutação deliciosa contrastava com a preocupação materna ao alertar para não ficar próximo do fogão. Quais são suas memórias despertadas pelo seu paladar? Como elas podem temperar a sua escrita?
Para ler: Em busca do tempo perdido v.1 Marcel Proust – Tradução Mario Quintana
Para saborear com os olhos fechados: prepare um delicioso chá e experimente fazer as madeleines ou outro bolinho, biscoito que você gosta.
Para escrever: Descreva sua experiência gustativa usando a descrição de Marcel Proust das madeleines, como modelo. Empreste memórias de outros sentidos para expandir os detalhes, lembre-se de descrever o cenário onde o alimento é degustado e aspectos do ambiente que contribuem para o seu deleite.