De mãos dadas com você

Foto:  IdaMara Freire,  Flores, Pacific Grouve, Califórnia

O que aprendi ao ir ao show do Jerry Adriani, quando criança.
Ao ler no jornal sobre o falecimento do cantor Jerry Adriani, no dia 23 de Abril de 2017, ela lembrou que na sua meninice cantava as músicas e era fã desse artista integrante do movimento conhecido como Jovem Guarda. Certo dia, dos seus 8 anos de idade, soube pelas irmãs, na época adolescentes, que haveria um show do Jerry Adriani na cidade, nesse período morava no interior de São Paulo. Animada, começou a fazer planos e contar os dias para estar frente a frente com seu cantor predileto. Finalmente, o dia do show chegou, ela se arrumou colocando seu vestido novo, feito especialmente para o seu aniversário, costurado com um tecido leve, cor de laranja, com minúsculas bolinhas brancas, em relevo, gola redonda, com laço delicado, feito do mesmo tecido. As irmãs, sabendo que o pai , por razões religiosas, não aprovaria elas irem ao show, estavam tentando serem discretas, e ela, menina, estava literalmente, atrapalhando tudo, com sua declarada euforia. Rondando as irmãs mais que mosca em volta de fruta madura. E, quando saíram de casa, no meio da tarde, lá foi a menina chorando no encalce das irmãs, recusando lidar com a impossibilidade de não ir ao show e ouvir Jerry Adriani   cantar “Meu coração é de cristal só seu amor pode quebrar…”
Após o longo caminho que seguiu, atrás das irmãs, finalmente chegou o momento   que Jerry Adriani apareceu no palco, vestido com as roupas   que menina reconhecia das capas de revistas e dos discos de vinil que circulavam no quarto das irmãs, que ela, curiosamente, vasculhava quando estas não estavam por perto. A menina observou-o de longe, com seu olhar infantil, notando o charme peculiar do cantor. E ao ouvir sua inconfundível voz sentiu diluir todo o cansaço físico e apagar a fadiga emocional que ali a trouxe. E imersa ficou naquele mar da canção popular.
Mas, a menina não sabia que ao ir àquele show criaria seu “modus operandi” para lidar com a vida:

  1. preparar-se  e vestir-se bem;
  2. persistir em seu desejo, mesmo sem apoio de alguém;
  3. ao chegar lá, desfrute do show.

 
Os anos se passaram, em tempos em tempos, ela ainda percebe sua menina interior agindo assim, nos relacionamentos, no trabalho, na arte…
Recentemente, eis que ela se deparou conversando com a tal menina, de vestido cor de laranja com bolinhas brancas em relevo. Comentou que admirava sua determinação, sua vontade, e seu desejo de apreciação da arte. E querendo agradar perguntou para a criança: “Como podemos seguir daqui para frente?” E a menina, que sabe muito bem o quer, respondeu prontamente: “De mãos dadas com você!”
Ela sabe que andar de mãos dadas com uma menina, sugere um novo “modus operandi”:

  1. atentar-se para o ritmo do caminhar com o outro e aceitar sorrindo o convite para saltitar;
  2. favorecer que a menina solte de sua mão e apreciar que ela corra na sua frente;
  3. reconhecer que a reconciliação com o mundo começa dentro de si.

Como sua criança interior influencia o seu modo de agir na vida?