Contemplar ou Mergulhar

Foto: Ida Mara Freire

Escrita: uma conversa dançada com o leitor
Por Ida Mara Freire
“Em virtude desse olhar as feições se fizeram rosto e, mais tarde, máscara, significação, história.” Estou aqui no Labirinto da Solidão de Octavio Paz atenta ao seu exercício de imaginação crítica dos mexicanos, homens e mulheres:
“O adolescente se assombra com o ser. E ao pasmo segue-se a reflexão: inclinado para o rio de sua consciência pergunta-se se este rosto que aflora lentamente das profundezas, deformado pela água, é o seu. A singularidade de ser – mera sensação na criança – transforma-se em problema e pergunta, em consciência inquisidora. Aos povos em transe de crescimento ocorre alguma coisa parecida. Seu ser se manifesta como interrogação: o que somos e como realizaremos isto que somos? […] Despertar para a história significa adquirir consciência da nossa singularidade, momento de repouso reflexivo antes de nos entregarmos ao fazer. […] A preocupação com o sentido das singularidades do meu país, que partilho com muitos, parecia-me há tempos supérflua e perigosa. Em vez de perguntarmo-nos a nós mesmos, não seria melhor criar, trabalhar sobre a realidade que não se entrega àquele que a contempla, mas sim àquele que é capaz de nela mergulhar? O que pode nos diferenciar do resto dos povos não é a sempre duvidosa originalidade de nosso caráter – fruto, talvez, das circunstâncias sempre mutantes –, mas sim a de nossas criações.”
Sexta-feira, após caminhar na praia, volto para casa e começo a escrever o exercício contemplativo 11. Mas, ao preparar o material fui me envolvendo numa teia de pensamentos que estou ainda suspensa, principalmente,  acerca dos temas que escrevo e, como tal escrita inspira vocês:  leitor e leitora,  a contemplarem e a  mergulharem na realidade para  criarem algo novo.  Embora, é sugerido manter uma periodicidade nas publicações, busco também,  não só produzir conteúdo, mas, além disso, estabelecer uma conversa dançada com vocês.  E uma conversa envolve tempo, silêncio, pausa da ação. Então,  ouvindo vocês e dançando com as palavras, surge o ritmo da realidade contemplada e mergulhada, e assim acontecerá a história aqui narrada.