Foto e texto por Ida Mara Freire
Estou aqui impactada com a leitura do livro da jornalista e escritora ucraniana Svetlana Aleksiévith, vencedora do prêmio Nobel de literatura 2015. Um título sugestivo: A guerra não tem rosto de mulher.
Em suas palavras:
“Não estou escrevendo sobre a guerra, mas sobre o ser humano na guerra. Não estou escrevendo a história de uma guerra, mas história dos sentimentos. Sou uma historiadora da alma.”
Nas palavras de suas entrevistadas:
“Eu era atiradora de metralhadora . Matei tanta gente… Depois da guerra passei muito tempo com medo de engravidar. Engravidei quando acalmei. Sete anos depois… Mas até hoje não perdoei nada. Eu não vou perdoar… Ficava feliz quando via os prisioneiros alemães. Feliz com a situação lamentável em que estavam: trapos enrolados nos pés em vez de botas, trapos na cabeça… Atravessavam o vilarejo e pediam: ‘Mãe, me dê pão. Um pouco de pão…’ Fiquei surpresa de ver que os camponese saíam das cabanas e davam – um pedacinho de pão, uma batatinha… Os meninos corriam atrás da coluna e jogavam pedras… e as mulheres choravam… Acho que vivi duas vidas: uma como homem, outra como mulher…”
Nas minhas palavras:
Ao escrever quase que diariamente sobre o perdão, quando deparo-me com um depoimento como dessa atiradora, a pergunta que me ocorre é saber: onde habita a dor do outro em meu corpo?