A literatura Apócrifa e sua relevância para compreensão do período intertestamentário

O módulo “O Período Interbíblico”, ministrado pelo Professor Felipe Prestes, abordou dentre outros temas a literatura apócrifa. Nessa resenha apresento primeiramente a delimitação do Período Interbíblico, destaco a literatura apócrifa, definindo o termo, descrevendo as circunstâncias que essa surgiu, menciono a dificuldade de catalogação dos livros apócrifos, sua canonicidade, e os livros mais conhecidos; para exemplificar um livro apócrifo, finalizo a resenha apresentando um estudo sintético do livro de “Tobit”. A escrita dessa resenha tem como fonte o livro de Enéas Tognini, intitulado “O Período Interbíblico: 400 anos de silêncio profético. E o livro de “Tobit” foi lido e estudado tendo como referencia A Bíblia TEB – Tradução Ecumênica.
 
O Período Interbíblico tem início com a interrupção profética entre o povo de Deus, caracterizado pelos 400 anos da cessação da revelação bíblica, pelo silêncio profundo em que Deus permaneceu em relação a seu povo. Deixando-os que os esforços dos homens na resolução de problemas espirituais falhassem; que filosofia desmoronasse; que o poder material enfadasse as almas; que a imoralidade religiosa desiludisse a todos, que a corrupção campeasse mostrando ao homem a inutilidade de tais sistemas e instituições. Durante esse período os judeus viveram sob o domínio consecutivo de três nações: Pérsia , Grécia e Roma. A vasta literatura produzida durante este período recebeu diversos nomes: apócrifa, pseudoepigráfica, apocalíptica. Nessa resenha destacarei a literatura apócrifa. A “apócrifa” originada de um vocábulo grego que significa “oculto” e era usado primitivamente em literatura para designar o que se achava em sigilo aos iniciados e revelados aos sábios. Séculos depois, serviu para designar escritos de segunda classe, literatura ilegítima ou falsa. Nos dias atuais “apócrifo” significa falso, que não apresenta autenticidade. Usualmente, refere-se à coleção de livros não-canônicos, incorporados à Septuaginta e à Vulgata, mas que foram rejeitados por judeus e protestantes. A literatura apócrifa surgiu nesse período, nos anos que medeiam de Malaquias a João Batista. A contribuição dessa literatura para o estudo da Bíblia auxilia a precisar a cronologia dos livros do Antigo Testamento, revela com perfeição o ambiente helênico em que se processavam tantas transformações e que conduziram ao mundo e ao ambiente em que Jesus viveu e, habilita o estudante da Bíblia ter uma compreensão melhor da história de Israel.
As circunstâncias que os primeiros apócrifos foram produzidos data 300 a.C., indicam especialistas. Depois de Malaquias os judeus não receberam uma palavra por parte de Deus. O povo começou a ficar decepcionado com as promessas. Faltando-lhes a revelação divina, deram asas à imaginação, tramando planos que consolidavam em peças literárias, cujas preocupações eram consolar o povo que espera uma palavra de Deus, No silêncio da voz divina, multiplicaram-se as palavras humanas. Outro fator relevante foi a dispersão dos judeus desde Nabucodonosor. Os judeus viviam aflitos e sem orientação, foram separados do templo e sua hegemonia destruída. A força de suas tradições foi enfraquecida. Espalharam-se pelo mundo, enriqueceram, mas lembravam de Jerusalém, mantinham-se fiéis a Deus e à sua Palavra. Dessa nostalgia, surgiram muitos livros apócrifos. A característica imediatista dos judeus de interpretação a profecia, por vezes concebiam um reino messiânico temporal conformado com os caprichos de uma nação e de um povo. Ao se verem frustradas as possibilidades , eles recorriam a imaginação. Deste modo, o conteúdo de diversos apócrifos é uma tentativa de harmonizar o que Deus prometeu nos profetas com as contingências  da época em que viviam. Enfim, os apócrifos aparecem tanto para conclamar o povo a se unir a fim de reivindicar os seus direitos ultrajados por estrangeiros impiedosos, como para cantar as vitórias concebidas por Deus.
O número de livros apócrifos é quase infinito. Diversas tentativas foram feitas com a finalidade de cataloga-los, mas até o momento nenhuma inclui a totalidade desses escritos. Essa literatura reflete as duas correntes rabínicas: halákica ou jurídica e haggádica ou histórica, inclinando-se para o apocalíptico. Escritos originalmente em hebraico ou aramaico, mas conservados somente no grego. Dividem-se em três grupos: a) históricos; b) didáticos; c) Apocalípticos;
Até o Concílio de Trento , em 1545, grandes autoridades eclesiástica dos católicos romanos ainda se manifestavam contra a canonicidade dos apócrifos. Para os protestantes todos os apócrifos são extrabíblicos   e não inspirados. A literatura apócrifa é pouco conhecida. No entanto, em nosso estudo, essa literatura nos auxilia fornecendo-nos dados históricos e mostrando-nos o ambiente do período intertestamentário.
Os apócrifos mais conhecidos são: 3 e 4 Esdras; 1 e 2 Macabeus; Tobias ou Tobit; Judite; Eclesiástico; Sabedoria de Salomão; Acréscimos a Ester; Acréscimos a Daniel; Baruque; Enoque; Apocalipse de Baruque; Testamento dos doze patriarcas; O livro dos jubileus.
Um exemplo dessa literatura apócrifa que abordo para completar essa resenha é um resumo do livro de Tobias ou Tobit. Considerado como uma das joias da literatura judaica, o livro Tobit é caracterizado como um romance popular inspirado na tradição da sabedoria do mundo pagão circundante, obra de edificação alimentada pelos escritos bíblicos, ele dá testemunho da vitalidade humana e religiosa do judaísmo nos séculos posteriores do exílio.
O conteúdo do livro narra a vida de duas famílias judaicas que viram-se deportadas na Assíria. Ambas mantiveram-se uma fidelidade escrupulosa à Lei, mas a desgraça as alcança de modo incompreensível. Tobit perde sua situação confortável e fica cego. Sara filha única da outra família é possuída por um demônio que mata todos os seu pretendentes na própria noite de núpcias. Deus ouve a prece de Tobit e de Sara e resolve curá-los por intermédio do anjo Rafael [Deus cura]. Ao assumir forma humana, Rafael guia em uma viagem à Média, o filho de Tobit , chamado Tobias, aconselhando a casar-se com Sara e depois como curar seu pai. Por fim, Rafael revela seu segredo e desaparece. A narrativa se conclui em ação de graças e em face das perspectivas de salvação futura.
Tobit
1:1-2.   Prólogo
1: 3-22. Vida piedosa de Tobit
2: 1- 14. Tobit na provação
3: 1- 6. Oração de Tobit
3: 7- 15. Os infortúnios de Sara
3:16-17. Tobit e Sara atendidos
4:1-21. Testamento de Tobit
5:1-23. Preparativos de viagem
6: 1-9. A captura do peixe.
6:10-19. Projeto de casamento
7:1- 14. Casamentos de Tobias
8:15-18. A noite de núpcias
8:19-21. O festim das bodas
9:1-6. Resgate do depósito
10:1-7. A espera de Ana e Tobit
10:8-14. Tobias a caminho de volta
11:1-19. A cura de Tobit
12:1-22. Rafael se dá a conhecer
13:1-18 -14.1.Cântico de Tobit
14:2-11. A morte de Tobit
14:12-14. Epílogo.
As fontes utilizadas para a tradução do texto foram: 1. A forma extensa, conservada por manuscrito grego do século IV, o Sinaiticus; 2. A forma breve, representada pela maioria dos manuscritos gregos; 3. E a Vulgata latina. Vale salientar, que as ideias religiosas do livro, o seu recurso aos profetas situam-se claramente após o Exílio. As analogias com o Sirácida escrito cerca de 190, o ideal de piedade que já prenuncia aos fariseus sugerem uma data situada por volta de 200 a.C.
 
Referências:
A Bíblia – Tradução Ecumênica. São Paulo: Loyola e Paulinas, 1995.
Tognini, Enéas. O período interbíblico: 400 anos de silêncio profético. São Paulo: Hagnos, 2009.